Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966) é o terceiro espetáculo do grupo Opinião, com estreia no Teatro de Arena do Rio de Janeiro, em 9 de abril de 1966. A peça assume, mais do que os espetáculos anteriores — o show Opinião e Liberdade, liberdade –, o desafio de encontrar uma linguagem teatral que expressasse a opinião do grupo sobre o país após o golpe civil-militar de 1964, porém também conseguisse permear a censura ditatorial. Comédia farsesca escrita em versos de cordel, a peça é escrita em coautoria por Vianna e Ferreira Gullar, colegas no CPC da UNE no início da década de 1960.
A obra tematiza os conflitos no campo, entre trabalhadores, proprietários e políticos locais, que se intensificaram sob o novo regime. Lançando mão do humor e do sarcasmo, ela desenvolve uma apurada crítica social ao trabalhar os dilemas vividos pelo protagonista Roque, que, em sua luta diária pela vida, se vê pressionado a praticar atos que prejudicam seus semelhantes, assim como obrigado a driblar pessoas da elite econômica e política — como o coronel que o explora e os políticos que pretendem «usá-lo». Ao representar as tensões entre os tipos sociais brasileiros do campo, a peça joga luz sobre a necessidade da reforma agrária, planejada pelo governo João Goulart, mas abortada pelo golpe. O título da obra, uma expressão popular, reflete a situação dos trabalhadores rurais: se enfrentam o sistema em busca de melhores condições de vida, devem também lidar com as ameaças e perseguições; se permanecem inertes, estão fadados a exploração.
Como na edição original, o texto integral da peça é acompanhado pelo texto O teatro, que bicho deve dar?, assinado coletivamente pelos integrantes do Opinião, uma sistematização dos debates internos do grupo, trazendo as razões políticas, artísticas e ideológicas pelas quais a peça foi escrita. O texto funciona como um manifesto e um programa de ação do grupo para aquele complexo contexto político-social do país.