O livro que aqui se apresenta busca compreender os novos populismos contemporâneos enquanto fenômeno global e como os novos líderes populistas utilizam-se de estratégias de construção de inimigos e ameaças, com base na construção da alteridade ao Outro radical, para angariar apoio popular e, assim, alcançar e manter o poder político em seus Estados. Para isso, buscamos, primeiramente, compreender a ascensão dos novos populismos como consequência da crise da ordem liberal. Nesse sentido, examinamos as contradições e as consequências da interconexão entre globalização, neoliberalismo e democracia representativa. Em seguida, investigamos como tal crise vem sendo inserida nos discursos populistas de Nicolás Maduro e Viktor Órban, respectivamente populistas de esquerda e de direta, olhando para as campanhas eleitorais de 2018. Observamos como esses líderes construíram discursivamente suas respectivas realidades nacionais com base na lógica populista que pressupõe uma divisão antagônica da sociedade que opõe a identidade do “povo” em antagonismo ao bloco de poder, à “elite” ou quaisquer “Outros”. Assim, partimos da hipótese de que em novos regimes populistas, seja à direita ou à esquerda, os líderes costumam utilizar-se da Outricidade como principal instrumento político em suas estratégias eleitorais. Ao criar uma ameaça existencial ao povo — personificada em inimigos reais ou imaginários –, a partir da (re)produção de uma narrativa constante de crise capaz de criar lacunas no senso de segurança ontológico do eleitorado, o líder populista mobiliza apoio popular para chegar e se manter no poder. Assim se desenvolve o engajamento em discursos de Outricidade, que constrói e transforma o diferente em ameaça existencial ao povo, mobiliza medos, inseguranças, ansiedades e antagonismos; que não só incita violência e radicalismo, como também legitima o líder populista como a figura protetora que livrará o povo dos perigos representados por tais ameaças.