Em janeiro de 2019, rompeu-se uma barragem de rejeitos da mina de ferro Córrego do Feijão, em Brumadinho, de propriedade da Vale S.A., deixando uma inundação de rejeitos de mineração que vitimou pelo menos 272 pessoas e contaminou toda a bacia do rio Paraopeba. Em fevereiro de 2021, foi firmado um acordo entre o Estado de Minas Gerais e a Vale no valor de R$ 37,6 bilhões, referente aos danos coletivos provocados pelo rompimento. Esse acordo foi construído em caráter de sigilo judicial e não contou com a participação direta dos atingidos. O presente livro orienta-se a partir do seguinte questionamento: se e como o acordo celebrado entre a Vale e o Estado traduz as demandas de reparação das comunidades atingidas pelo rompimento da barragem em Brumadinho? O que se pretende compreender é em que medida o acordo extrajudicial responde às expectativas das comunidades no que se refere à reparação integral dos danos provocados. Para isso, foram realizadas entrevistas com representantes das comunidades e organizações apoiadoras, representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado de Minas Gerais e representantes da Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento da Vale. É fundamental registrar, desde já, que esta pesquisa foi realizada, em todas as suas etapas, com o auxílio do método de observação participante, uma vez que a pesquisadora é também moradora atingida e acompanha as comunidades impactadas pelo rompimento da barragem em sua cidade, Brumadinho.
