Em As Cores do Novo Mundo, Bruno Silva demonstra como o conceito de «raça», enquanto uma categoria científica e política de impérios e nações do século XIX, surge na América nos séculos XVII e XVIII com intenções opostas. Ao invés de se referir à imutabilidade dos corpos e à origem biológica da cultura, as narrativas europeias de raça do século XVII promoveram uma visão da diferença americana como resultado da rápida mutabilidade do corpo sob climas degenerados e formas culturais adversas. A narrativa da degeneração e corrupção dos corpos indígenas foi um gênero inicial da colonização e conquista americana que culminou no século XVIII com a grande polêmica do Novo Mundo. No Iluminismo, naturalistas como Buffon e filósofos como De Pauw apresentaram o homem americano como corporalmente distinto: o produto da degeneração de um corpo original comum devido a efeitos adversos de climas, estrelas e alimentos. Nascidas dos relatos de viagens à América, essas teorias da mutação de um corpo original se tornarão teorias semelhantes sobre negros e uma justificativa para o tráfico de escravos. Silva estuda, com cuidado e destreza, as transições contraditórias de «raça» como uma categoria constantemente em fluxo e disputa. Por detrás das mutações da ideia de «raça» na história recente da humanidade, escondem-se na realidade transformações sociológicas de conhecimento e poder, e não novidades científicas sobre o corpo.
Jorge Cañizares-Esguerra
University of Texas — Austin