A prática cultural de compor um arquivo pessoal vem do século XVIII, acompanhando as mudanças da relação que o indivíduo moderno estabeleceu com seus documentos e com a produção de uma memória de si. Prática que englobava a “escrita de si”, ou escrita autorreferencial, a composição de arquivos pessoais, assim como a manutenção e a guarda de um acervo que desse significado e legitimasse a memória de indivíduos e grupos.
A professora Pórcia Guimarães Alves (1917–2005), como indivíduo moderno, compôs seu arquivo pessoal, sobre o qual se debruçaram as pesquisadoras desta obra. Com base em um estudo inédito acerca da composição material e do ordenamento do acervo de Pórcia, esta biografia sobre a família, os anos de formação e a atuação de uma das pioneiras da Psicologia no Paraná constitui material imprescindível para historiadores, educadores e estudantes.
Nestas páginas o leitor pode conhecê-la ocupando o papel de filha, voluntária, amiga, rival, aluna, docente funcionária do Estado ou de diretora de instituições públicas ou privadas. Papéis que a fragmentavam socialmente, é certo, mas que ao mesmo tempo revelam uma identidade insólita no Brasil da primeira metade do século XX.