Este Teatro Antológico de Artur Azevedo — Volume 1 reúne cinco peças de grande sucesso do autor: A almanjarra, A Capital Federal, A casadinha de fresco, A filha de Maria Angu e A joia. Em todas o humor popular comparece de modo quase natural, em meio a jogos de linguagem que fizeram e fazem a alegria do público do espetáculo, mas também a do leitor do texto teatral, que não terá dificuldade em transformar sua imaginação em um palco privilegiado, tal a virtuosidade dos diálogos, que impulsionam as cenas de encadeamento quase cinematográfico.
Como o leitor observará, a vocação musical de suas peças se apresenta o tempo todo, mesmo quando os diálogos em prosa vigoram, porque, mesmo neles, a fluidez da prosódia evoca o ritmo da palavra cantada.
Porém, não só no interior das falas vive essa característica musical de suas peças: o encadeamento dos registros de fala, das cenas, dos quadros e dos atos ecoam o tempo todo uma espécie de sinfonia vocal muito bem articulada.
Esse encadeamento colhe o leitor desde o início de cada texto e o embala até a notação de “Caio Pano”, ao final. Ou pela engenhosidade dos trocadilhos, ou pela ambiguidade do texto escorregadio, a leitura flui com desenvoltura e plasticidade, ao ponto de as cenas se concretizarem nas retinas do leitor praticamente sem necessidade de detalhamentos, notas ou rubricas.
Artur Azevedo, que além de dramaturgo foi poeta e jornalista, conferiu a suas peças uma comunicabilidade extremamente eficaz entre seus personagens e o público ao qual eles se dirigem. Não por acaso sua obra tornou-se obrigatória aos interessados pelo teatro, e ainda mais àqueles dedicados à literatura.
Seu sucesso em vida tem a ver com essa genialidade que ele cultivou desde sua estreia, em fins do século XIX: a de desenvolver uma linguagem que atou seus personagens, seu público e seus leitores definitivamente.
