“Meu filho, o futuro chega…” Sempre achei graça desse jargão repetido com frequência por minha mãe. Mesmo depois dos oitenta anos de idade ela ainda estava se preparando para o tal futuro que chegaria. Agora, chegando aos noventa, com alguma confusão mental, ainda fica indignada: «Estão achando que sou uma velha de cem anos! Eu posso muito bem fazer o que quero! Ainda não preciso de ninguém me vigiando!” Em nossas brincadeiras em família, sempre pergunto quando minha mãe acreditará que o futuro chegou. Esse «cidadão” já chegou. Entrou sem pedir licença, assentou-se confortavelmente, tomou conta do ambiente e, sem pudor e sem piedade, começou a dar ordens e controlar a situação! Há momentos em que ele se sente no direito de incomodar, e há momentos em que ele é um convite à celebração. O mais curioso é que ele sempre foi esperado, e até mandou inúmeros avisos enquanto caminhava em nossa direção, mas, ainda assim, consegue ser surpreendente. O futuro chegou lá em casa!
Desde pequeno ouço falar desse tal futuro e era muito encantado com o mistério que o envolvia. Sendo o mais novo dos cinco filhos, alimentava certa inveja dos irmãos que chegavam ao meu futuro antes de mim, e queria estar onde eles estavam, fazendo o que faziam, sendo o que eles eram. Até que meu irmão caçula nasceu, sete anos depois de mim, e pelo menos algum futuro havia chegado. Para mim foi um livramento porque não mais seria o último — como se sempre houvesse vantagem em ser o primeiro da fila. Em algum momento entendi que o futuro não é produto individual e com vagas limitadas, mas algo democrático e disponível a todos. Todos têm seu futuro, mesmo que ele se manifeste diferentemente para cada um de nós. Mesmo se passar pelo portão da morte, quando se imagina ter chegado o fim de todas as coisas, é aí que o futuro se instala com mais propriedade e significado.