Duas almas
Ó tu que vens de longe,
ó tu que vens cansada
entra, e sob este teto encontrarás carinho:
eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.
vives sozinha sempre
e nunca foste amada...
a neve anda a branquear
lividamente a estrada,
e a minha alcova
tem a tepidez de um ninho.
entra,
ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente
da alvorada.
e amanhã quando a luz do sol
dourar radiosa
essa estrada sem fim, deserta,
horrenda e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!
já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
há de ficar comigo uma saudade tua...
hás de levar contigo uma saudade minha...