Na Alemanha do final do século XIX, Melchior, Wendla e Moritz, jovens escolares em plena descoberta sexual, são confrontados a uma série de regras, repressões e tabus, submetidos que estão aos tradicionais preceitos da família, da escola e da religião cristã. O embate entre o aflorar da vida juvenil e o fardo de uma moral cristalizada se desdobra ora no lirismo das cenas infantis, que assumem por vezes colorações mortíferas, ora na representação farsesca das autoridades e do poder.
Concluída em 1891, quando Frank Wedekind contava com apenas 27 anos, a peça O despertar da primavera é considerada uma experiência intermediária entre o naturalismo e o expressionismo. Essa «tragédia infantil», como a definiu seu autor, é atravessada por temas até hoje atuais: da gravidez na adolescência ao aborto, da liberdade sexual ao suicídio, do tabu em torno do sexo à privação ao conhecimento do próprio corpo. Não à toa, o texto enfrentou ardilosos obstáculos da censura mundo afora, inclusive no Brasil.
Em nova tradução brasileira, feita diretamente do alemão, O despertar da primavera inaugura a coleção de teatro moderno da Temporal. Esta edição ainda inclui prefácio assinado pelo tradutor, Vinicius Marques Pastorelli, e um texto de György Lukács sobre a obra e o autor, inédito em português, além de poemas de Wedekind, fichas técnicas das apresentações e sugestões de leitura — aparatos que fornecem subsídios para um mergulho no universo desta peça, que contribuiu para definir os rumos do teatro no século XX.