Ao longo da história, filósofos, matemáticos e cientistas sonharam com uma inteligência não humana capaz de pensar por si própria.
Alan Turing concretizou parte disso ao criar um decodificador que superou os esforços dos especialistas da época. A máquina de Turing alavancou os programas de Inteligência Artificial (IA), desenhados para tarefas inofensivas, como ser um bom adversário no xadrez. Foram necessários pouco mais de trinta anos para Deep Blue virar o jogo e derrotar o enxadrista Garry Kasparov, o então campeão mundial.
E o que diriam os sonhadores do passado ao ver o santo Papa de jaqueta puffer em vez da batina branca? Talvez nem filosofassem a respeito, preocupados em bombar nas redes sociais com a trend da Disney Pixar! Por outro lado, testemunhamos uma espécie de renascimento das cinzas com os papiros de Herculano, carbonizados na explosão do Vesúvio há dois mil anos, decifrados graças à IA.
A controvérsia se acentua na literatura e no mundo acadêmico, nos quais os softwares para detecção de similaridades e de plágio são velhos conhecidos. Porém, o Prêmio Jabuti recebeu uma obra ilustrada por IA e optou por desclassificá-la, pois tal procedimento não constava nas regras da principal premiação literária do país.
Sonho ou pesadelo?
Hoje, a história com a IA é outra, sem limites ou regulações, com direito a reviravoltas e desfechos imprevisíveis, acuada apenas pela obsolescência.
Sendo assim, nada melhor que reunir nesta antologia sete autores para contar suas versões e aventuras ao desbravar o mundo literário coabitado pela inteligência humana e a artificial.
Afinal, no território das palavras, até onde a IA pode avançar?
Catherine Beltrão encontrou algumas respostas ao desafiar o Chat GPT a criar microcontos a partir dos mesmos temas que ela escrevera, e o resultado de seus experimentos permeia toda a obra.
Explorando o presente, o conto «O imprestável», de Alexandre Cardeal, mergulha no lado obscuro das redes sociais, encoberto pela IA, enquanto Vanessa Meriqui descreve a odisseia de Regina Maria ao ousar se aposentar em “Uma nova mulher”.
O conto «A aposentadoria do homem invisível» é tão surpreendente quanto o próprio título. O autor Coquinho revela os contrastes de um Brasil onde milhões sequer têm uma certidão de nascimento e 95% dos adultos jovens não desgrudam do celular.
Avançamos para o futuro ao embarcar em “IAuto: Dorothy e Julius”, de Luciana de Gnone. O conto fala da última viagem de uma empresária em um novo mundo dirigido pela IA. O salto no tempo/espaço é um pouco maior em “Olhos Neon”, de Eduardo R. Costa, que narra o despertar turbulento da capitã Jessica, prestes a pisar em um outro planeta.
Por fim, «O último jantar», de Telma Theodoro, vai para 2045 e descreve o dilema de uma escritora no corredor da morte, pois se recusa a aceitar as regras impostas pela IA para se salvar.
Antes que tudo aqui escrito se torne obsoleto…
Boa leitura e diversão!