Contos que perpassam desde os sertões brasileiros até o íntimo humano
Deserto azul é, como o autor Alexandre Sgreccia define, uma coletânea de registros fragmentados, soltos no tempo, sem unidade aparente. Misturam o vivido com o sonho, como se um fosse parte do outro, fantasias em que o pensamento se perde ao criar estórias para passar o tempo.
Os três primeiros contos reunidos neste livro têm uma linguagem que junta o Sertão nordestino às terras áridas do norte de Minas, universo imaginário percorrido pelo personagem Zé da Cabrita, que intitula uma das histórias curtas.
Na sequência, os contos remetem ao personagem angustiado que sente a proximidade do fim e se refugia nas lembranças, ora das pessoas que mais amou, ora de momentos ternos da sua infância, ora da rebeldia de sua juventude.
O último conto revela o propósito do personagem que se prepara para a morte. «O que seria o exercício de colocar na tela do computador, esse lento e seletivo resgate de memórias erigidas numa morada do tempo, senão o ato precípuo de se desfazer lentamente delas?», interroga. O narrador continua: «Ele o faz como gesto calculado para, ao desvencilhar-se das reminiscências, ampliar lentamente o vazio de nada ser, aproximação a passos miúdos e programados do próprio fim». Uma possível unidade entre os diversos contos, frágil e ambígua, pode ser buscada pelo leitor a partir dessas revelações.