Em LO-FI: música pop em baixa definição, Marcelo B. Conter nos propõe outras “sonoridades” de pesquisa para a investigação dos fenômenos que se friccionam entre a comunicação e a cultura/música pop, tanto pelo modo como organiza os conceitos quanto nos modos como suas imagens sonoras são apresentadas ao longo dos capítulos. Ao ressignificar a ideia de lo-fi para além de um uso de equipamentos e instrumentos musicais deteriorados ou obsoletos, para construir ao redor dele um conjunto de práticas, linguagens, políticas, estéticas e discursos, Conter convida o leitor a percorrer um mapa tão inusitado quanto didático, colocando sua máquina abstrata LO-FI a apontar «o processo de variação contínua pelo qual a música pop é arrebatada pela baixa definição sonora”, como ele mesmo diz. Àquele interessado em encontrar propostas de articulação entre conceitos tratados contemporaneamente nos estudos de Comunicação voltados para a investigação das materialidades, o autor oferece harmonizações consistentes. Para o entusiasmado pelos músicos, bandas, instrumentos, canções, aparelhagens, gravadoras e indústrias fonográficas, Conter apresenta uma escavação preciosa de histórias que revelam camadas do lo-fi para muito além das oposições entre o underground e o mainstream. Mais que um produto final de pesquisa, o livro torna-se um convite permanente para o leitor inventar e reinventar caminhos para “atacar” suas páginas (tal qual o “ataque” do guitarrista nas cordas de seu instrumento, imagem sonora muito Conteriana), produzindo seus próprios mapas e sonoridades sobre o lo-fi.
Gustavo Daudt Fischer