O diabo está à espreita
Poucos escritores penetraram tão fundo na alma dos seus personagens quanto Leon Tolstói, dono de uma técnica narrativa certeira e cristalina. É o que pode ser visto em “O diabo”, conto escrito em 1898. De origem autobiográfica — e provavelmente em razão disso –, o texto só foi publicado postumamente, em 1916, já que Tolstói o escondera por considerá-lo escandaloso. “O diabo” trata de questões caras ao autor de Guerra e paz: o papel do casamento, do sexo e das relações amorosas, bem como a responsabilidade moral dos indivíduos. Na história, Evguêni, um bacharel em direito, se envolve com uma bela camponesa da região, num caso que teria tudo para ser esquecido e relegado às loucuras de juventude. Mas Evguêni é jovem, e não percebe que está criando armadilhas para si mesmo…
O conde Leon Nikolaievitch Tolstói (1828–1910) tinha uma personalidade complexa e contraditória. Aristocrata, compreendeu e exprimiu melhor do que ninguém a alma sofredora e humilde do povo; fruto de uma casta conservadora de fidalgos, questionou-se a vida inteira a respeito da religião, da organização social, da arte etc. No final da vida, chegou a renegar sua obra, da qual se destacam Guerra e paz e Anna Kariênina, considerados unanimemente dois dos maiores romances de todos os tempos.