Esta obra visa a problematizar o modo como a formação em psicologia formata certas maneiras de escutar o outro a partir de dispositivos normativos. Nosso objetivo foi pensar como a cisnormatividade é performada nos espaços de formação de psicólogues e como isso é transmutado para a escuta clínica. Na escrita, procuramos evidenciar tais mecanismos em dois grandes contextos: os dispositivos de clínica-escola e as formações clássicas de psicanalistas. A justificativa de colocarmos o “cis” no divã sobre diversos aspectos está pautada no entendimento de que a prática clínica em psicologia esteve, durante longas décadas, colada aos saberes médicos, jurídicos e terapêuticos, que, por meio de seus dispositivos de saber-poder-ser, produziram uma dívida histórica via patologização diante do gênero. Longe de ser algo amplamente resolvido, os campos discursivos das psicologias ainda atuam como dispositivos de controle, vigilância, violência, discriminação e patologização. Por fim, esperamos que este debate contribua como uma crítica para os campos clínicos, éticos, teóricos e políticos da atualidade.