Dirios (1947–1963)

Keats:

“Não tenho certeza de nada, a não ser da santidade dos afetos do coração e da verdade da imaginação”

“Ah, antes uma vida de sensação que de pensamentos”

Também estou relendo Lucrécio, que copiei no caderno 4 — “A vida continua a viver... São os vivos, os vivos, os vivos que morrem.”

Meu Deus, viver é uma coisa enorme!

devo pensar no sistema solar — nas incontáveis galáxias dispersas por incontáveis anos-luz — em espaços infinitos — não devo olhar para o céu por mais do que um momento — não devo pensar na morte, na eternidade — não devo fazer todas essas coisas, para que eu não conheça esses momentos horríveis em que minha mente parece uma coisa tangível — mais do que a minha mente — todo o meu espírito — tudo aquilo que me anima e que é o desejo original e reativo que constitui o meu “eu” — tudo isso toma uma forma e um tamanho definidos — grande demais para ficar contido na estrutura que chamo de meu corpo —

A música é, a uma só vez, a mais maravilhosa e a mais viva de todas as artes — é a mais abstrata, a mais perfeita, a mais pura — e a mais sensual. Eu ouço com o meu corpo e é o meu corpo que dói em resposta à paixão e ao páthos encarnados nessa música.