Reunião de textos de veteranas do feminismo brasileiro, compilada por Heloisa Buarque de Hollanda, que procura colocar em pauta questões epistemológicas na perspectiva feminista, questões que irão se desdobrar com força nas décadas posteriores.
O estudo de Lourdes Maria Bandeira coloca em pauta a categoria «violência de gênero» como caráter necessário multifacetado, constituído como um jogo de forças de sua dupla dimensão de fenômeno social e categoria de análise, abrindo um vasto campo de reflexão para estudiosos e pesquisadores.
Maria Luiza Heilborn oferece uma observação aguda sobre o cruzamento das características próprias da antropologia com os estudos de gênero, mostrando como a antropologia enfatiza a perspectiva sistêmica que domina o jogo de construção dos papéis e identidades masculinas e femininas e sinalizando a fragilidade da expressão «relações de gênero» como eixo e definição dos estudos sobre mulher.
O estudo de Angela Arruda faz um movimento similar ao assinalar certa convergência entre as teorias das representações do campo da psicologia social com as teorias feministas que começam a privilegiar o papel da experiência e trazer para suas pautas a perspectiva de uma epistemologia feminista.
Maria Odila Leite da Silva Dias avança seu estudo sobre a pesquisa na área de História em direção a uma epistemologia feminista na qual sujeito e objeto estariam diluídos um no outro. Apontando para a necessidade de se historicizar, contextuar e relativizar conceitos e saberes universais, Maria Odila propõe como tarefa maior do pensamento feminista o trabalho com a hermenêutica do cotidiano, privilegiando categorias instáveis, porém capazes de fragilizar a perspectiva do sujeito epistemológico masculino universal.
E, fechando a coletânea, o texto de Marageth Rago é focado diretamente na abordagem crítica epistemológica e a formação de contradiscursos feministas que possam se constituir como um campo de conhecimento próprio, interpelando nosso “feminismo tropical” [sic] mais atento à urgência dos problemas sociais e às demandas urgentes de intervenção.
«Movida por este momento de redescoberta do feminismo e querendo contar esta história para jovens feministas, reuni textos de nossas veteranas brasileiras — produzidos numa hora re repressão e ditadura militar — que tiveram que enfrentar compromissos políticos nem sempre desejáveis, preconceitos machistas dos intelectuais e dificuldades em sua inserção acadêmica. Enfim, mesmo assim o pensamento feminista conseguiu emergir e se consolidar como área legítima de conhecimento» Heloisa Buarque de Hollanda.
Parte do livro «Pensamento feminista brasileiro: formação e contexto».