Meu pai, homem sábio e sóbrio, deu-me excelentes e ponderados conselhos contra o que ele antevia como minha intenção. Chamou-me certa manhã a seu quarto, no qual a gota o confinara, e muito cordialmente discutiu comigo a questão. Perguntou-me que razões eu teria, mais do que o simples pendor à errância, para deixar a casa paterna e minha terra natal, onde eu bem poderia ter facilidades de início, com uma perspectiva de propiciar a meu destino, pela dedicação ao trabalho, uma vida de tranquilidade e prazer. Disse-me que só a homens de destinos desesperados, por um lado, ou com a ambição de destinos superiores, por outro, cabia expatriar-se em busca de aventuras, para ascender pela própria audácia e se tornarem famosos por realizações à margem do caminho comum; que ou essas coisas estavam muito acima ou muito abaixo de mim; que minha situação era a média, ou o que pode ser chamado de patamar mais alto das classes baixas, que ele já constatara, por longa experiência, ser a melhor no mundo, a mais adequada à felicidade humana, não exposta às desditas e às asperezas, à labuta e aos padecimentos da parte da espécie às voltas com os trabalhos braçais